sexta-feira, 23 de abril de 2010

Liberdade

Não importa se você quer ir pra bem longe de mim, amor, não importa. Falava ele com um leve sorriso na face. A tua liberdade era parte dos meus planos, mais uma das lições que eu gostaria de te mostrar sobre a vida, ele continuava enquanto a empurrava levemente para frente. Você deve ir para onde o vento te levar, pois fomos feitos para voar, para sermos livres como pássaros. ele continuava a empurrá-la. Ela não dizia mais nada, havia abaixado sua cabeça e deixava ser empurrada porta a fora. Na alma, cortes profundos. Marcas da liberdade que estava prestes a reencontrar. Eu te amo, ele sorria. Por isto quero que você vá, porque te amo. A lua iluminava parte do seu rosto ainda direcionado para o chão. O vento congelava seu sangue e a fazia estremecer. A porta se fechou.
Inevitavelmente ela teve que encarar mais uma vez a dimensão do mundo. Lá estava ela novamente, frente ao tempo, à imensidão, que para o seu conforto teria um fim, um merecido fim. Andou alguns quilômetros em linha reta até ter certeza que estava longe o suficiente dali. Deitou na terra molhada, virou-se de lado e abraçou os joelhos. Os significados iam bicando o seu corpo. Arrancando cada pedaço. As horas de agonia se estenderam até o coma inconsciente. Não eram imagens, nem lembranças, não havia simbologia. Eram gritos, apenas gritos. O reconhecimento de seu destino. A solidão e o frio na pele que aos poucos congelava seu coração seriam eternos enquanto durasse a vida.
A porta se abria. Ali, deitada, ela o via voar para longe. Quanto mais se distanciava, maior era o sorriso. O sol já nascia entre as montanhas. Vagarosamente, com a esperança de que assim o tempo seja encurtado, ela levanta. Fecha os olhos. Em seu ouvido, o vento sussurra mais uma vez. Então ela segue. Em direção ao nada, ou para onde o vento a levar.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Bifurcação

A vida continua,
cada qual em seu curso.
Uns pro norte, outros pro sul.
Como era de se esperar.
Como irá sempre acontecer.