quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Adeus

Estou indo embora. Não, não é porque vou viajar. Estou indo embora de verdade. Você deveria ter imaginado. Lembra? Lembra de quando nos conhecemos? Lembra de todas as vezes que nos conhecemos? Das minhas fugas, da minha dor?
Quando nos conhecemos tínhamos algo em comum, algo profundo que nos ligava – Queríamos ir embora. Chegamos a tentar ir juntos, você deve lembrar-se daquela noite. A noite que rimos, que provamos da rosa, a noite que encontramos o mar. Eu e você.
Aquele sangue percorrendo às nossas gargantas, sempre, sempre através da lua. Foi naquela noite que a solidão invadiu nós dois. Quer morrer comigo? Eu te perguntei, e você aceitou. Temos que morrer agora, certo? depois será tarde demais, tarde demais.
E nós corríamos e ríamos e nos felicitávamos porque teríamos uma morte juntos em direção ao mar. E nadamos, nadamos, mas a morte não pode ser conjunta é sempre um ato solitário, então voltamos, mas eu te avisei, não foi? Eu te disse que seria tarde, tarde demais.
Assim voltamos, virgens, com toda aquela máscara envolvendo nossa solidão. Você seguiria o seu caminho e eu o meu, porque eu tinha te dito que seria tarde demais e que a única maneira de ficarmos juntos seria através da morte, éramos danificados demais.
Encharcados, percorríamos o caminho de volta, enquanto eu cantava, você sorria e me olhava. Eu estava sempre olhando pra dentro, estava presa em mim mesma. Você me deixou em casa, e eu te dei o meu adeus. Na madrugada fui atrás de você. Estou indo embora, te disse. Pra onde? você me perguntava. Você não entenderia se eu te dissesse. Só passei pra te dizer adeus.
Você nunca entendeu, não é verdade? Por isso sempre me procura. Não quero te desapontar, mas sempre estou certa sobre as coisas, e quando te disse que seria tarde demais era sério. É tarde demais, o meu adeus foi sincero. Desperdiçamos a nossa única oportunidade, agora seremos dois estranhos para sempre.
Eu deveria terminar a minha frase nesse para sempre, pois é sempre assim que faço, e é assim que quero que tudo seja, mas não é. Nós morremos naquela noite, não juntos, mas eu pra você e você pra mim.
Olha, está ficando tarde, preciso ir. O que aconteceu comigo? Digamos que fiquei ainda mais danificada. Você também? A vida sempre foi estranha pra nós dois. Espero que o destino já tenha brincado o suficiente comigo e com você, espero que nos deixe em paz. De verdade. De qualquer modo, adeus... adeus, meu irmão. Falei aquela palavra que há tanto estava engasgada. Nossos laços, nosso sangue. Adeus, meu irmão.
A areia me revestiu e eu vi você sumir. Adeus...

Um comentário:

Paulo Davi disse...

Adeus?
Ah! Deus!
...E até breve, companheira dos mais sinceros devaneios...