Rebeca não era nada do que Fábio sonhava, mas ele ficava com ela mesmo assim. Ele imaginava Rebeca alta, morena, magra, olhos castanhos e sorriso nos lábios, enquanto Rebeca era branca como uma lagartixa, tinha olhos verdes sempre encobertos pela escuridão do seu cabelo. Nunca chegou a alcançar um padrão de beleza satisfatório. A cintura grossa roubava a carne que devia pertencer às ancas. Era toda desproporcional a tal da Rebeca, não conseguia permanecer em pé por muito tempo, desastrada como ela, esbarrava nas coisas e estava sempre despencando.
Além do mais, estava quase corcunda de tanta coisa nas costas, desde pequena aprendeu a carregar sua cruz. Nunca gostou da vida, mas continuava a se arrastar pelos caminhos e de vez em quando pedia que alguém a acompanhasse, aquela egoísta. Ela tinha um coração, tentava deixar trancado, mas sempre vinha algum moleque pra tentar descobrir o que havia ali dentro, parece que quanto mais fechado, mais desejavam abrir. Rebeca não queria permitir, talvez não advertisse como devia, mas era um verdadeiro campo minado que tinha dentro do peito.
Rebeca tentava burlar sua insatisfação fugindo de suas rotinas, não era sempre que podia, mas quando dava fazia. Gostava de esportes radicais, roleta russa era seu favorito, combinava perfeitamente com as vontades da menina que não era muito contente com a vida e tinha dificuldades de obter adrenalina. Então Rebeca brincava de abrir as frestas do coração, pra ver se alguém entrava e pisava em todas as minas que havia. Foi num dia daqueles, de insatisfação plena, que Fábio entrou por aquela porta. Rebeca fazia suas brincadeiras de espiar pelas frestas e Fábio entrou na trincheira. Era bem esperto aquele garoto, desarmou algumas granadas, as que eram possíveis, limpou o terreno e ia visitá-la esporadicamente. Rebeca gostava daqueles momentos e queria sempre mais. Parecia que sua cruz desaparecia quando Fábio a visitava e o campo minado se tornava um belo jardim, mas nada é completamente bom na vida de Rebeca, há sempre um outro lado da moeda. Quando ele saia estourava sempre uma bomba, não era proposital, não era o que Fábio desejava, mas acontecia. Rebeca sangrava e suas feridas iam se expandindo, Fábio não sabia disso, se sabia não ligava.
Um dia Fábio chegou pra Rebeca e disse que ia pra longe, em pânico Rebeca gritou, sabia que a força da próxima bomba seria intensa, era tudo sempre proporcional a distância. Radiante, fábio partiu pra desbravar novos horizontes. Machucada e ainda mais insatisfeita Rebeca continuou a jogar seu jogo, mas a adrenalina não a satisfazia, queria mesmo é que Fábio voltasse pra transformar o cenário da bomba atômica novamente num jardim. Quando Fábio voltou tentou cuidar do jardim de Rebeca, mas nada parecia florecer, começou a delirar o pobre garoto e levou Rebeca pra passear. No caminho foi dizendo a Rebeca que queria ir pra mais longe a cada dia. Era bom bom pra ele, Rebeca sabia, além de não saber ao certo se havia como transformar um campo semimorto em jardim. Rebeca segurou forte a mão de Fábio e disse que ele teria que ir de vez, mostrou todas as feridas e relatou o que acontecia. Fabio parou o carro, bem no meio da estrada e disse:
“eu não sei o que você pensa sobre as coisas que têm acontecido com nós dois, mas a verdade é que eu nunca pensei que elas fossem chegar a esse ponto. o que foi que aconteceu pra que parássemos aqui?”
Rebeca se entristeceu, tentou explicar mais uma vez e soltou a solução: - Fábio, terás que ir de vez, parece que não há como desarmar esses dispositivos que machucam o coração e está ficando cada dia pior, não sei por quanto tempo mais ele resiste e ainda tenho muita cruz pra carregar. Temo que ao partir, muitas dessas bombas estourem, mas será uma única vez pra ti e talvez você também saia um pouco ferido, mas eu tenho certeza que não será nada grave, se não puder andar eu te carrego daqui, vou te levar em algum hospital onde possam te deixar ainda mais forte e bem cuidado. Eu te amo, Fábio, queria te ter comigo, mas não é justo pra nenhum de nós.
Fábio continuou delirando, parecia ter começado a se importar com as feridas de Rebeca, pois sabia que por menor impacto que causassem as bombas teriam que atingi-lo uma vez. Mais uma vez via aquela Rebeca, alta magra e com um sorriso no rosto, dizia que ela era sádica e que só queria ferí-lo e não percebia que Rebeca só estava buscando uma auto-proteção.
- Presta atenção, Fábio, você não está vendo as coisas como elas são. Só estou tentando arrancar esse espinho que encravou na minha pele e que um dia chegará a tua antes que tenhamos que amputar alguma parte do nosso corpo.
Fábio não queria saber, gritava o nome de Rebeca
- Rebecaaaaaaaaa, sua sádica, não faz isso comigo não, vagabunda. Para de ser tão egoísta, não me deixa nessa porra desse hospital não.
-Fábio, você estará melhor aí, eu sei que você não gosta de hospitais, mas é por bem pouco tempo. Logo, logo estará curado e poderá ir pra onde quiseres sem precisar pensar nas bombas estouradas, se é que algum dia você pensou nelas. Não vem com esse discurso que é porque não me satisfez, você sabe o quanto gosto de ter você dentro de mim e que você foi o único a me satisfazer por completo. Eu gosto de tudo em você, Fábio, do seu tamanho, da sua voz, da sua boca e das suas pernas me servindo de cobertor. Você diz que nunca sabe o que quero, e que eu também não. Esse seu pensamento beira a verdade, eu sei o que quero, mas não posso ter, então fico buscando as maneiras de ajustar os meus desejos, e é por isso que pareço uma doida atrás de novos caminhos, mas cansei de procurar, Fábio, cansei. Acho que não existe um caminho bom. É melhor voltar a carregar minha cruz e arrastar os meus dias. Vou tentar não brincar mais de roleta russa. É um esporte perigoso demais.
Rebeca sabia, o tempo todo, que o que estava fazendo era exatamente o que deveria ser feito, mas bem lá no fundo não queria largar o Fábio naquele hospital, não queria. Quanto mais Fábio gritava o nome de Rebeca mais ela se contorcia. Era tão bom ter alguém pra florescer o coração.
-Não grita não Fábio, não grita não. Rebeca se sentou no chão do Hospital e começou a correr pra dentro, pra ver se dava tempo de achar um novo caminho, mas era uma busca que parecia não ter fim.
Fábio, sempre muito esperto, curou suas feridas e saiu correndo do hospital. Rebeca não tinha certeza se voltaria a escutar seus gritos depois de tudo que ele tinha visto, era provável que não voltasse mais, mas disse baixinho, como um morador solitário de uma ilha colocando um pedido de socorro dentro de uma garrafa de vidro e jogando no mar;
-Perdão Fábio, eu não queria te ferir. Nunca quis que você provasse uma gota sequer da minha dor. Tudo que fiz foi por auto-proteção.
Além do mais, estava quase corcunda de tanta coisa nas costas, desde pequena aprendeu a carregar sua cruz. Nunca gostou da vida, mas continuava a se arrastar pelos caminhos e de vez em quando pedia que alguém a acompanhasse, aquela egoísta. Ela tinha um coração, tentava deixar trancado, mas sempre vinha algum moleque pra tentar descobrir o que havia ali dentro, parece que quanto mais fechado, mais desejavam abrir. Rebeca não queria permitir, talvez não advertisse como devia, mas era um verdadeiro campo minado que tinha dentro do peito.
Rebeca tentava burlar sua insatisfação fugindo de suas rotinas, não era sempre que podia, mas quando dava fazia. Gostava de esportes radicais, roleta russa era seu favorito, combinava perfeitamente com as vontades da menina que não era muito contente com a vida e tinha dificuldades de obter adrenalina. Então Rebeca brincava de abrir as frestas do coração, pra ver se alguém entrava e pisava em todas as minas que havia. Foi num dia daqueles, de insatisfação plena, que Fábio entrou por aquela porta. Rebeca fazia suas brincadeiras de espiar pelas frestas e Fábio entrou na trincheira. Era bem esperto aquele garoto, desarmou algumas granadas, as que eram possíveis, limpou o terreno e ia visitá-la esporadicamente. Rebeca gostava daqueles momentos e queria sempre mais. Parecia que sua cruz desaparecia quando Fábio a visitava e o campo minado se tornava um belo jardim, mas nada é completamente bom na vida de Rebeca, há sempre um outro lado da moeda. Quando ele saia estourava sempre uma bomba, não era proposital, não era o que Fábio desejava, mas acontecia. Rebeca sangrava e suas feridas iam se expandindo, Fábio não sabia disso, se sabia não ligava.
Um dia Fábio chegou pra Rebeca e disse que ia pra longe, em pânico Rebeca gritou, sabia que a força da próxima bomba seria intensa, era tudo sempre proporcional a distância. Radiante, fábio partiu pra desbravar novos horizontes. Machucada e ainda mais insatisfeita Rebeca continuou a jogar seu jogo, mas a adrenalina não a satisfazia, queria mesmo é que Fábio voltasse pra transformar o cenário da bomba atômica novamente num jardim. Quando Fábio voltou tentou cuidar do jardim de Rebeca, mas nada parecia florecer, começou a delirar o pobre garoto e levou Rebeca pra passear. No caminho foi dizendo a Rebeca que queria ir pra mais longe a cada dia. Era bom bom pra ele, Rebeca sabia, além de não saber ao certo se havia como transformar um campo semimorto em jardim. Rebeca segurou forte a mão de Fábio e disse que ele teria que ir de vez, mostrou todas as feridas e relatou o que acontecia. Fabio parou o carro, bem no meio da estrada e disse:
“eu não sei o que você pensa sobre as coisas que têm acontecido com nós dois, mas a verdade é que eu nunca pensei que elas fossem chegar a esse ponto. o que foi que aconteceu pra que parássemos aqui?”
Rebeca se entristeceu, tentou explicar mais uma vez e soltou a solução: - Fábio, terás que ir de vez, parece que não há como desarmar esses dispositivos que machucam o coração e está ficando cada dia pior, não sei por quanto tempo mais ele resiste e ainda tenho muita cruz pra carregar. Temo que ao partir, muitas dessas bombas estourem, mas será uma única vez pra ti e talvez você também saia um pouco ferido, mas eu tenho certeza que não será nada grave, se não puder andar eu te carrego daqui, vou te levar em algum hospital onde possam te deixar ainda mais forte e bem cuidado. Eu te amo, Fábio, queria te ter comigo, mas não é justo pra nenhum de nós.
Fábio continuou delirando, parecia ter começado a se importar com as feridas de Rebeca, pois sabia que por menor impacto que causassem as bombas teriam que atingi-lo uma vez. Mais uma vez via aquela Rebeca, alta magra e com um sorriso no rosto, dizia que ela era sádica e que só queria ferí-lo e não percebia que Rebeca só estava buscando uma auto-proteção.
- Presta atenção, Fábio, você não está vendo as coisas como elas são. Só estou tentando arrancar esse espinho que encravou na minha pele e que um dia chegará a tua antes que tenhamos que amputar alguma parte do nosso corpo.
Fábio não queria saber, gritava o nome de Rebeca
- Rebecaaaaaaaaa, sua sádica, não faz isso comigo não, vagabunda. Para de ser tão egoísta, não me deixa nessa porra desse hospital não.
-Fábio, você estará melhor aí, eu sei que você não gosta de hospitais, mas é por bem pouco tempo. Logo, logo estará curado e poderá ir pra onde quiseres sem precisar pensar nas bombas estouradas, se é que algum dia você pensou nelas. Não vem com esse discurso que é porque não me satisfez, você sabe o quanto gosto de ter você dentro de mim e que você foi o único a me satisfazer por completo. Eu gosto de tudo em você, Fábio, do seu tamanho, da sua voz, da sua boca e das suas pernas me servindo de cobertor. Você diz que nunca sabe o que quero, e que eu também não. Esse seu pensamento beira a verdade, eu sei o que quero, mas não posso ter, então fico buscando as maneiras de ajustar os meus desejos, e é por isso que pareço uma doida atrás de novos caminhos, mas cansei de procurar, Fábio, cansei. Acho que não existe um caminho bom. É melhor voltar a carregar minha cruz e arrastar os meus dias. Vou tentar não brincar mais de roleta russa. É um esporte perigoso demais.
Rebeca sabia, o tempo todo, que o que estava fazendo era exatamente o que deveria ser feito, mas bem lá no fundo não queria largar o Fábio naquele hospital, não queria. Quanto mais Fábio gritava o nome de Rebeca mais ela se contorcia. Era tão bom ter alguém pra florescer o coração.
-Não grita não Fábio, não grita não. Rebeca se sentou no chão do Hospital e começou a correr pra dentro, pra ver se dava tempo de achar um novo caminho, mas era uma busca que parecia não ter fim.
Fábio, sempre muito esperto, curou suas feridas e saiu correndo do hospital. Rebeca não tinha certeza se voltaria a escutar seus gritos depois de tudo que ele tinha visto, era provável que não voltasse mais, mas disse baixinho, como um morador solitário de uma ilha colocando um pedido de socorro dentro de uma garrafa de vidro e jogando no mar;
-Perdão Fábio, eu não queria te ferir. Nunca quis que você provasse uma gota sequer da minha dor. Tudo que fiz foi por auto-proteção.
2 comentários:
isso foi ctrl+c ctrl+v
“eu não sei o que você pensa sobre as coisas que têm acontecido com nós dois, mas a verdade é que eu nunca pensei que elas fossem chegar a esse ponto. o que foi que aconteceu pra que parássemos aqui?”
no mais, o texto ficou muito bonito e entendível. fluido, interessante, prendendo até o final, para querer saber como será o fim.
Precisa citar a fonte? é a única fala do texto entre aspas.
E eu nunca estive interessada em fazer um texto bonito, mas que bom que ficou entendível.
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