Melhor sumir,
sem levar identidade,
deixar cargas, histórias e planos,
inventar um novo nome
e pintar a cara.
melhor fugir,
resistir até a morte,
ao sono, à fome, à sorte,
até o limite chegar.
Melhor esquecer,
que o senhor dos sonhos não tem pressa,
que um dia você tropeça,
e ele estará lá pra te acolher.
Melhor assumir,
que está mesmo tudo errado,
que vou sentir teu gosto amargo,
até outro aparecer.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Platéia de um só
Sou eu o meu lugar comum.
Da janela avisto os transeuntes
cumprem o ir e vir de direito
Sou platéia do espetáculo das mil faces
Dispenso Bravo!, contenho aplausos, escondo flores.
Na arquibancada questiono meu papel
absorvo dores, decoro falas e esboço expressões
Mudam-se as luzes, os cenários, os atores
mas o público é fiel, único e indivisível
Sem censuras, sem guias. Não mais!
Você foi embora e deixou em branco o em diante
Desde então as cortinas estão sempre abertas,
o palco virou arena e me puseram no centro
Minha poltrona continua sendo o castelo de areia
construído a 30 anos atrás, solidificado com a decadência
do tempo, do vento e das águas salubres
Alguém susurrou a liberdade no meu ouvido
Era a setença do astronauta, ser jogado no espaço
Voar pelo céu não é liberdade, é solidão.
Amanheço sem tuas direções e permaneço
Paralisia. A tua gota de piedade não foi suficiente.
Minha autopiedade deseja a sorte de um buraco negro.
Um abraço, a sete palmos do chão.
Da janela avisto os transeuntes
cumprem o ir e vir de direito
Sou platéia do espetáculo das mil faces
Dispenso Bravo!, contenho aplausos, escondo flores.
Na arquibancada questiono meu papel
absorvo dores, decoro falas e esboço expressões
Mudam-se as luzes, os cenários, os atores
mas o público é fiel, único e indivisível
Sem censuras, sem guias. Não mais!
Você foi embora e deixou em branco o em diante
Desde então as cortinas estão sempre abertas,
o palco virou arena e me puseram no centro
Minha poltrona continua sendo o castelo de areia
construído a 30 anos atrás, solidificado com a decadência
do tempo, do vento e das águas salubres
Alguém susurrou a liberdade no meu ouvido
Era a setença do astronauta, ser jogado no espaço
Voar pelo céu não é liberdade, é solidão.
Amanheço sem tuas direções e permaneço
Paralisia. A tua gota de piedade não foi suficiente.
Minha autopiedade deseja a sorte de um buraco negro.
Um abraço, a sete palmos do chão.
domingo, 22 de agosto de 2010
A voz do silêncio
De onde vem essa voz
que anuncia ilusão
De onde vem a intuição
que me faz recuar
quando o que mais quero
é estar junto.
Será a voz do mundo,
das canções, das poesias?
Será do futuro, do eco das montanhas?
Da solidão, quem sabe,
aquela que me destes
e que não me abandonou.
De onde vem, pra onde vai
a voz que me faz gritar
que estoura pulmões
e faz sangrar
que não desenlaça
os nós da garganta
De onde vem essa voz
que desafinou a minha canção favorita
Vem do baque, da queda
vem da dor, do câncer
de uma doença escondida
que ninguém sabe diagnosticar
Não quero mais morfina,
nem devaneios inúteis
quero uma causa e uma cura
que anuncia ilusão
De onde vem a intuição
que me faz recuar
quando o que mais quero
é estar junto.
Será a voz do mundo,
das canções, das poesias?
Será do futuro, do eco das montanhas?
Da solidão, quem sabe,
aquela que me destes
e que não me abandonou.
De onde vem, pra onde vai
a voz que me faz gritar
que estoura pulmões
e faz sangrar
que não desenlaça
os nós da garganta
De onde vem essa voz
que desafinou a minha canção favorita
Vem do baque, da queda
vem da dor, do câncer
de uma doença escondida
que ninguém sabe diagnosticar
Não quero mais morfina,
nem devaneios inúteis
quero uma causa e uma cura
sábado, 21 de agosto de 2010
Reconstrução
'É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder seguir
É preciso chuva para florir'
E mesmo se for dilúvio,
a destruir tudo que te resta
é preciso força pra reconstruir
E vontade pra fazer
um universo melhor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder seguir
É preciso chuva para florir'
E mesmo se for dilúvio,
a destruir tudo que te resta
é preciso força pra reconstruir
E vontade pra fazer
um universo melhor
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Rascunhos
Da bolsa antiga,
puxou um papel amassado.
rascunhos de uma história
que começaram juntos.
Nunca seria escrita.
puxou um papel amassado.
rascunhos de uma história
que começaram juntos.
Nunca seria escrita.
Abstinência
A loucura, meu bem,
é resquício da abstinência de você
Eu que te queria tanto
não aguentava ver seus planos
de ir pra longe de mim
gostava do meu vício,
mas não podia suportar
o fato de estares sempre em falta.
é resquício da abstinência de você
Eu que te queria tanto
não aguentava ver seus planos
de ir pra longe de mim
gostava do meu vício,
mas não podia suportar
o fato de estares sempre em falta.
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Razão
Aplaudia os cientistas
exterminadores de metáforas
Eram os versos que faziam mal
Queria esquecer as palavras
desalfabetizar
Mas não tinha volta
mesmo se refugiada em números
sofreria os ataques constantes.
exterminadores de metáforas
Eram os versos que faziam mal
Queria esquecer as palavras
desalfabetizar
Mas não tinha volta
mesmo se refugiada em números
sofreria os ataques constantes.
Levanta
Depois das trincheiras,
foi parar num campo de navalhas,
reclamava do purgatório,
até chegar no inferno.
Lá era intensa,
a dor não corria,
desfilava devagarinho
por corredores estreitos
Pra que pressa,
quando a morte te espera?
uma hora tudo acaba
Quando morrer
perceberá que até mesmo a dor
tinha sua beleza.
Sufoca baixinho,
talvez vire masoquista,
pra voltar a se erguer
e ficar em pé no mundo.
foi parar num campo de navalhas,
reclamava do purgatório,
até chegar no inferno.
Lá era intensa,
a dor não corria,
desfilava devagarinho
por corredores estreitos
Pra que pressa,
quando a morte te espera?
uma hora tudo acaba
Quando morrer
perceberá que até mesmo a dor
tinha sua beleza.
Sufoca baixinho,
talvez vire masoquista,
pra voltar a se erguer
e ficar em pé no mundo.
Guerra
Que soldado ao participar da destruição da guerra sente vontade de lutar?
Maiakóvski respondia. Os proletários que lutam com o coração contra a burguesia forçada.
"comunistas nós somos porque, pensando com justiça os mais e menos, sabemos recuar, batalhar na retaguarda, e partir novamente pra luta"
Seria uma solução? não. Lutavam em exércitos distintos.
Maiakóvski respondia. Os proletários que lutam com o coração contra a burguesia forçada.
"comunistas nós somos porque, pensando com justiça os mais e menos, sabemos recuar, batalhar na retaguarda, e partir novamente pra luta"
Seria uma solução? não. Lutavam em exércitos distintos.
Louca
Rebeca era louca,
devia ser amarrada
numa camisa de força
amordaçada e jogada
num hospício de segurança máxima.
Morfina, Rebeca, morfina
assim você não grita
nem corre pra onde quiser.
Alguém prende Rebeca
e põe ela pra dormir.
Nos sonhos encontrava delírio
E as duas faziam festa.
devia ser amarrada
numa camisa de força
amordaçada e jogada
num hospício de segurança máxima.
Morfina, Rebeca, morfina
assim você não grita
nem corre pra onde quiser.
Alguém prende Rebeca
e põe ela pra dormir.
Nos sonhos encontrava delírio
E as duas faziam festa.
De Rebeca para Fábio
Rebeca não era nada do que Fábio sonhava, mas ele ficava com ela mesmo assim. Ele imaginava Rebeca alta, morena, magra, olhos castanhos e sorriso nos lábios, enquanto Rebeca era branca como uma lagartixa, tinha olhos verdes sempre encobertos pela escuridão do seu cabelo. Nunca chegou a alcançar um padrão de beleza satisfatório. A cintura grossa roubava a carne que devia pertencer às ancas. Era toda desproporcional a tal da Rebeca, não conseguia permanecer em pé por muito tempo, desastrada como ela, esbarrava nas coisas e estava sempre despencando.
Além do mais, estava quase corcunda de tanta coisa nas costas, desde pequena aprendeu a carregar sua cruz. Nunca gostou da vida, mas continuava a se arrastar pelos caminhos e de vez em quando pedia que alguém a acompanhasse, aquela egoísta. Ela tinha um coração, tentava deixar trancado, mas sempre vinha algum moleque pra tentar descobrir o que havia ali dentro, parece que quanto mais fechado, mais desejavam abrir. Rebeca não queria permitir, talvez não advertisse como devia, mas era um verdadeiro campo minado que tinha dentro do peito.
Rebeca tentava burlar sua insatisfação fugindo de suas rotinas, não era sempre que podia, mas quando dava fazia. Gostava de esportes radicais, roleta russa era seu favorito, combinava perfeitamente com as vontades da menina que não era muito contente com a vida e tinha dificuldades de obter adrenalina. Então Rebeca brincava de abrir as frestas do coração, pra ver se alguém entrava e pisava em todas as minas que havia. Foi num dia daqueles, de insatisfação plena, que Fábio entrou por aquela porta. Rebeca fazia suas brincadeiras de espiar pelas frestas e Fábio entrou na trincheira. Era bem esperto aquele garoto, desarmou algumas granadas, as que eram possíveis, limpou o terreno e ia visitá-la esporadicamente. Rebeca gostava daqueles momentos e queria sempre mais. Parecia que sua cruz desaparecia quando Fábio a visitava e o campo minado se tornava um belo jardim, mas nada é completamente bom na vida de Rebeca, há sempre um outro lado da moeda. Quando ele saia estourava sempre uma bomba, não era proposital, não era o que Fábio desejava, mas acontecia. Rebeca sangrava e suas feridas iam se expandindo, Fábio não sabia disso, se sabia não ligava.
Um dia Fábio chegou pra Rebeca e disse que ia pra longe, em pânico Rebeca gritou, sabia que a força da próxima bomba seria intensa, era tudo sempre proporcional a distância. Radiante, fábio partiu pra desbravar novos horizontes. Machucada e ainda mais insatisfeita Rebeca continuou a jogar seu jogo, mas a adrenalina não a satisfazia, queria mesmo é que Fábio voltasse pra transformar o cenário da bomba atômica novamente num jardim. Quando Fábio voltou tentou cuidar do jardim de Rebeca, mas nada parecia florecer, começou a delirar o pobre garoto e levou Rebeca pra passear. No caminho foi dizendo a Rebeca que queria ir pra mais longe a cada dia. Era bom bom pra ele, Rebeca sabia, além de não saber ao certo se havia como transformar um campo semimorto em jardim. Rebeca segurou forte a mão de Fábio e disse que ele teria que ir de vez, mostrou todas as feridas e relatou o que acontecia. Fabio parou o carro, bem no meio da estrada e disse:
“eu não sei o que você pensa sobre as coisas que têm acontecido com nós dois, mas a verdade é que eu nunca pensei que elas fossem chegar a esse ponto. o que foi que aconteceu pra que parássemos aqui?”
Rebeca se entristeceu, tentou explicar mais uma vez e soltou a solução: - Fábio, terás que ir de vez, parece que não há como desarmar esses dispositivos que machucam o coração e está ficando cada dia pior, não sei por quanto tempo mais ele resiste e ainda tenho muita cruz pra carregar. Temo que ao partir, muitas dessas bombas estourem, mas será uma única vez pra ti e talvez você também saia um pouco ferido, mas eu tenho certeza que não será nada grave, se não puder andar eu te carrego daqui, vou te levar em algum hospital onde possam te deixar ainda mais forte e bem cuidado. Eu te amo, Fábio, queria te ter comigo, mas não é justo pra nenhum de nós.
Fábio continuou delirando, parecia ter começado a se importar com as feridas de Rebeca, pois sabia que por menor impacto que causassem as bombas teriam que atingi-lo uma vez. Mais uma vez via aquela Rebeca, alta magra e com um sorriso no rosto, dizia que ela era sádica e que só queria ferí-lo e não percebia que Rebeca só estava buscando uma auto-proteção.
- Presta atenção, Fábio, você não está vendo as coisas como elas são. Só estou tentando arrancar esse espinho que encravou na minha pele e que um dia chegará a tua antes que tenhamos que amputar alguma parte do nosso corpo.
Fábio não queria saber, gritava o nome de Rebeca
- Rebecaaaaaaaaa, sua sádica, não faz isso comigo não, vagabunda. Para de ser tão egoísta, não me deixa nessa porra desse hospital não.
-Fábio, você estará melhor aí, eu sei que você não gosta de hospitais, mas é por bem pouco tempo. Logo, logo estará curado e poderá ir pra onde quiseres sem precisar pensar nas bombas estouradas, se é que algum dia você pensou nelas. Não vem com esse discurso que é porque não me satisfez, você sabe o quanto gosto de ter você dentro de mim e que você foi o único a me satisfazer por completo. Eu gosto de tudo em você, Fábio, do seu tamanho, da sua voz, da sua boca e das suas pernas me servindo de cobertor. Você diz que nunca sabe o que quero, e que eu também não. Esse seu pensamento beira a verdade, eu sei o que quero, mas não posso ter, então fico buscando as maneiras de ajustar os meus desejos, e é por isso que pareço uma doida atrás de novos caminhos, mas cansei de procurar, Fábio, cansei. Acho que não existe um caminho bom. É melhor voltar a carregar minha cruz e arrastar os meus dias. Vou tentar não brincar mais de roleta russa. É um esporte perigoso demais.
Rebeca sabia, o tempo todo, que o que estava fazendo era exatamente o que deveria ser feito, mas bem lá no fundo não queria largar o Fábio naquele hospital, não queria. Quanto mais Fábio gritava o nome de Rebeca mais ela se contorcia. Era tão bom ter alguém pra florescer o coração.
-Não grita não Fábio, não grita não. Rebeca se sentou no chão do Hospital e começou a correr pra dentro, pra ver se dava tempo de achar um novo caminho, mas era uma busca que parecia não ter fim.
Fábio, sempre muito esperto, curou suas feridas e saiu correndo do hospital. Rebeca não tinha certeza se voltaria a escutar seus gritos depois de tudo que ele tinha visto, era provável que não voltasse mais, mas disse baixinho, como um morador solitário de uma ilha colocando um pedido de socorro dentro de uma garrafa de vidro e jogando no mar;
-Perdão Fábio, eu não queria te ferir. Nunca quis que você provasse uma gota sequer da minha dor. Tudo que fiz foi por auto-proteção.
Além do mais, estava quase corcunda de tanta coisa nas costas, desde pequena aprendeu a carregar sua cruz. Nunca gostou da vida, mas continuava a se arrastar pelos caminhos e de vez em quando pedia que alguém a acompanhasse, aquela egoísta. Ela tinha um coração, tentava deixar trancado, mas sempre vinha algum moleque pra tentar descobrir o que havia ali dentro, parece que quanto mais fechado, mais desejavam abrir. Rebeca não queria permitir, talvez não advertisse como devia, mas era um verdadeiro campo minado que tinha dentro do peito.
Rebeca tentava burlar sua insatisfação fugindo de suas rotinas, não era sempre que podia, mas quando dava fazia. Gostava de esportes radicais, roleta russa era seu favorito, combinava perfeitamente com as vontades da menina que não era muito contente com a vida e tinha dificuldades de obter adrenalina. Então Rebeca brincava de abrir as frestas do coração, pra ver se alguém entrava e pisava em todas as minas que havia. Foi num dia daqueles, de insatisfação plena, que Fábio entrou por aquela porta. Rebeca fazia suas brincadeiras de espiar pelas frestas e Fábio entrou na trincheira. Era bem esperto aquele garoto, desarmou algumas granadas, as que eram possíveis, limpou o terreno e ia visitá-la esporadicamente. Rebeca gostava daqueles momentos e queria sempre mais. Parecia que sua cruz desaparecia quando Fábio a visitava e o campo minado se tornava um belo jardim, mas nada é completamente bom na vida de Rebeca, há sempre um outro lado da moeda. Quando ele saia estourava sempre uma bomba, não era proposital, não era o que Fábio desejava, mas acontecia. Rebeca sangrava e suas feridas iam se expandindo, Fábio não sabia disso, se sabia não ligava.
Um dia Fábio chegou pra Rebeca e disse que ia pra longe, em pânico Rebeca gritou, sabia que a força da próxima bomba seria intensa, era tudo sempre proporcional a distância. Radiante, fábio partiu pra desbravar novos horizontes. Machucada e ainda mais insatisfeita Rebeca continuou a jogar seu jogo, mas a adrenalina não a satisfazia, queria mesmo é que Fábio voltasse pra transformar o cenário da bomba atômica novamente num jardim. Quando Fábio voltou tentou cuidar do jardim de Rebeca, mas nada parecia florecer, começou a delirar o pobre garoto e levou Rebeca pra passear. No caminho foi dizendo a Rebeca que queria ir pra mais longe a cada dia. Era bom bom pra ele, Rebeca sabia, além de não saber ao certo se havia como transformar um campo semimorto em jardim. Rebeca segurou forte a mão de Fábio e disse que ele teria que ir de vez, mostrou todas as feridas e relatou o que acontecia. Fabio parou o carro, bem no meio da estrada e disse:
“eu não sei o que você pensa sobre as coisas que têm acontecido com nós dois, mas a verdade é que eu nunca pensei que elas fossem chegar a esse ponto. o que foi que aconteceu pra que parássemos aqui?”
Rebeca se entristeceu, tentou explicar mais uma vez e soltou a solução: - Fábio, terás que ir de vez, parece que não há como desarmar esses dispositivos que machucam o coração e está ficando cada dia pior, não sei por quanto tempo mais ele resiste e ainda tenho muita cruz pra carregar. Temo que ao partir, muitas dessas bombas estourem, mas será uma única vez pra ti e talvez você também saia um pouco ferido, mas eu tenho certeza que não será nada grave, se não puder andar eu te carrego daqui, vou te levar em algum hospital onde possam te deixar ainda mais forte e bem cuidado. Eu te amo, Fábio, queria te ter comigo, mas não é justo pra nenhum de nós.
Fábio continuou delirando, parecia ter começado a se importar com as feridas de Rebeca, pois sabia que por menor impacto que causassem as bombas teriam que atingi-lo uma vez. Mais uma vez via aquela Rebeca, alta magra e com um sorriso no rosto, dizia que ela era sádica e que só queria ferí-lo e não percebia que Rebeca só estava buscando uma auto-proteção.
- Presta atenção, Fábio, você não está vendo as coisas como elas são. Só estou tentando arrancar esse espinho que encravou na minha pele e que um dia chegará a tua antes que tenhamos que amputar alguma parte do nosso corpo.
Fábio não queria saber, gritava o nome de Rebeca
- Rebecaaaaaaaaa, sua sádica, não faz isso comigo não, vagabunda. Para de ser tão egoísta, não me deixa nessa porra desse hospital não.
-Fábio, você estará melhor aí, eu sei que você não gosta de hospitais, mas é por bem pouco tempo. Logo, logo estará curado e poderá ir pra onde quiseres sem precisar pensar nas bombas estouradas, se é que algum dia você pensou nelas. Não vem com esse discurso que é porque não me satisfez, você sabe o quanto gosto de ter você dentro de mim e que você foi o único a me satisfazer por completo. Eu gosto de tudo em você, Fábio, do seu tamanho, da sua voz, da sua boca e das suas pernas me servindo de cobertor. Você diz que nunca sabe o que quero, e que eu também não. Esse seu pensamento beira a verdade, eu sei o que quero, mas não posso ter, então fico buscando as maneiras de ajustar os meus desejos, e é por isso que pareço uma doida atrás de novos caminhos, mas cansei de procurar, Fábio, cansei. Acho que não existe um caminho bom. É melhor voltar a carregar minha cruz e arrastar os meus dias. Vou tentar não brincar mais de roleta russa. É um esporte perigoso demais.
Rebeca sabia, o tempo todo, que o que estava fazendo era exatamente o que deveria ser feito, mas bem lá no fundo não queria largar o Fábio naquele hospital, não queria. Quanto mais Fábio gritava o nome de Rebeca mais ela se contorcia. Era tão bom ter alguém pra florescer o coração.
-Não grita não Fábio, não grita não. Rebeca se sentou no chão do Hospital e começou a correr pra dentro, pra ver se dava tempo de achar um novo caminho, mas era uma busca que parecia não ter fim.
Fábio, sempre muito esperto, curou suas feridas e saiu correndo do hospital. Rebeca não tinha certeza se voltaria a escutar seus gritos depois de tudo que ele tinha visto, era provável que não voltasse mais, mas disse baixinho, como um morador solitário de uma ilha colocando um pedido de socorro dentro de uma garrafa de vidro e jogando no mar;
-Perdão Fábio, eu não queria te ferir. Nunca quis que você provasse uma gota sequer da minha dor. Tudo que fiz foi por auto-proteção.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Pequeno príncipe
A rosa queria coisas demais
e eram todas impossíveis;
um chão firme pra não cair,
e alguém que a regasse
O príncipe recitava poesia
lá do alto do castelo
quando não, pegava um cometa
a rosa se entristecia
havia tão pouca luz naquele planeta
rosa com suas raízes
não podia ir a muitos lugares
nem no castelo ia, nem no cometa
Certo dia, teve a audácia de dizer;
- não vá mais naquele cometa
mas se envergonhou e percebeu
que não tinha nada a oferecer
- Desculpe, principezinho,
por ser tão gananciosa,
queria tê-lo comigo,
mas vejo que és feliz onde está.
Segue pois o teu caminho,
já aprendi a me cuidar.
e eram todas impossíveis;
um chão firme pra não cair,
e alguém que a regasse
O príncipe recitava poesia
lá do alto do castelo
quando não, pegava um cometa
a rosa se entristecia
havia tão pouca luz naquele planeta
rosa com suas raízes
não podia ir a muitos lugares
nem no castelo ia, nem no cometa
Certo dia, teve a audácia de dizer;
- não vá mais naquele cometa
mas se envergonhou e percebeu
que não tinha nada a oferecer
- Desculpe, principezinho,
por ser tão gananciosa,
queria tê-lo comigo,
mas vejo que és feliz onde está.
Segue pois o teu caminho,
já aprendi a me cuidar.
Então
"Você foi!
O maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci"
Vale cada grito rasgado
cada órgão amputado,
cada lágrima caída.
Sinto por não ter
o mesmo significado,
mas te deixei quietinho
em destaque na prateleira
E se for Zefa, Maria,
Anna ou Joaquina,
que te faça feliz
Vá em paz...
As tuas estrofes
sei de cor
Estão guardadas na cabeça,
no coração e na ponta da minha língua.
O maior dos meus casos
De todos os abraços
O que eu nunca esqueci"
Vale cada grito rasgado
cada órgão amputado,
cada lágrima caída.
Sinto por não ter
o mesmo significado,
mas te deixei quietinho
em destaque na prateleira
E se for Zefa, Maria,
Anna ou Joaquina,
que te faça feliz
Vá em paz...
As tuas estrofes
sei de cor
Estão guardadas na cabeça,
no coração e na ponta da minha língua.
Fahrenheit 451
Você seria o livro
que eu decoraria
palavra por palavra
dia após dia
te repetiria intensamente
até o fim da existência
que eu decoraria
palavra por palavra
dia após dia
te repetiria intensamente
até o fim da existência
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Devolução
Li você do começo ao fim,
pra fechar o livro
e não faltar mais nada.
Te deixo na biblioteca.
É egoísmo querer na minha estante
um original sem cópias.
Quem sabe a próxima a te ler,
não seja Mariana.
pra fechar o livro
e não faltar mais nada.
Te deixo na biblioteca.
É egoísmo querer na minha estante
um original sem cópias.
Quem sabe a próxima a te ler,
não seja Mariana.
Sunshine
O sol nasce todo dia
os olhos amam a escuridão,
a noite traz os sonhos
que a luz apaga,
mas é questão de tempo,
de tanto se expor,
a visão desembaça.
Depois da dor
que se constata
estará cega ou iluminada.
os olhos amam a escuridão,
a noite traz os sonhos
que a luz apaga,
mas é questão de tempo,
de tanto se expor,
a visão desembaça.
Depois da dor
que se constata
estará cega ou iluminada.
Das juras de amor
Ele jurava o céu,
as estrelas e o infinito
montava universos
entre versos e prosa
Ela pedia colo,
carinho e sossego
presença era seu único querer
A vida seguia assim;
Ele a jurar,
ela a querer
o tempo arrastando
mentiras e frustrações
Até que amanheceu
Quando os raios apontam,
a vista cega se alumia
e ela via até doer
até rachar o coração
Era sempre assim,
ele jurava à a, b ou c
Tão independente era o seu amor...
Ela a querer o que julgava diferente
até amanhecer
Ela pedia pra ele ficar,
ele não podia, mas sabia jurar,
ela ouvia, imaginava, cria
até amanhecer
Com os primeiros raios,
ainda a jurar, ele partiu
ferida, ela sussurava
"dessa vez você não tem que ir"
Novamente o amanhecer
Quantos mais seria preciso?
os raios iluminavam o gravador
a fita enganchada de juras acabadas
Bastava apertar o botão
e seria assim pra sempre,
Juras a repetir, ele a partir
E o golpe cíclico dos raios de sol.
as estrelas e o infinito
montava universos
entre versos e prosa
Ela pedia colo,
carinho e sossego
presença era seu único querer
A vida seguia assim;
Ele a jurar,
ela a querer
o tempo arrastando
mentiras e frustrações
Até que amanheceu
Quando os raios apontam,
a vista cega se alumia
e ela via até doer
até rachar o coração
Era sempre assim,
ele jurava à a, b ou c
Tão independente era o seu amor...
Ela a querer o que julgava diferente
até amanhecer
Ela pedia pra ele ficar,
ele não podia, mas sabia jurar,
ela ouvia, imaginava, cria
até amanhecer
Com os primeiros raios,
ainda a jurar, ele partiu
ferida, ela sussurava
"dessa vez você não tem que ir"
Novamente o amanhecer
Quantos mais seria preciso?
os raios iluminavam o gravador
a fita enganchada de juras acabadas
Bastava apertar o botão
e seria assim pra sempre,
Juras a repetir, ele a partir
E o golpe cíclico dos raios de sol.
Last Kiss
Esvaziava osmoticamente,
Para igualar o coração.
Aos que fazia perceber,
o tempo levava.
Restava o nosso embalar
oscilando em cores.
Espaço e horas esquecidas
Até o último beijo
A mixagem do eu e você
o sabor único do nunca mais
empalhou-se na memória.
“Fazem 365 dias, amor,
Já é hora”
Às dores sentidas,
reticências.
Detestava livros inacabados.
Para toda história,
Um ponto final.
Para igualar o coração.
Aos que fazia perceber,
o tempo levava.
Restava o nosso embalar
oscilando em cores.
Espaço e horas esquecidas
Até o último beijo
A mixagem do eu e você
o sabor único do nunca mais
empalhou-se na memória.
“Fazem 365 dias, amor,
Já é hora”
Às dores sentidas,
reticências.
Detestava livros inacabados.
Para toda história,
Um ponto final.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Badaladas
Os sinos batem na hora exata. Seja ao dizer o "sim" na saúde, na doença, na alegria ou na tristeza até que a morte os separe, seja para entoar o singelo "descanse em paz". Os sinos batem a cada hora naquela igrejinha e os ponteiros vão descendo e subindo coordenadamente até o próximo badalar.
Nas veias daquela mulher o sangue escoa trajetando o seu corpo em compasso. Os batimentos do coração acompanham os segundos do relógio daquela igreja. Cada badalada lança uma chama tóxica que faz contorcer todos os músculos. A sensação de agonia não é tão coordenada e constante, ao contrário, parece se intensificar como se a qualquer minuto tudo fosse explodir em minúsculas partículas.
Engraçado falar em partícula porque ela havia fixado em sua mente que tudo o que lhe acontecia era explicado pelo fato de ser uma simples partícula. A salvação, pensava ela, seria unir-se a outras para formar um átomo. Até que um dia, aprofundando seu pensamento, percebeu que se fosse um átomo iriam faltar outros átomos para se tornar uma substância e desta maneira nunca estaria plenamente satisfeita de si.
Não gostava de ser partícula, não estaria satisfeita em ser átomo ou substância, mas não fora sempre assim. Houve um tempo em que ela conseguia acreditar em sonhos e seu corpo era substanciado a uma realidade paralela. Houve um tempo em que a dor deixou de existir pois a consciência habitava as dimensões do sonhar. Houve um tempo em que acreditava não ser uma simples partícula, mas o tempo passou.
O tempo passou devagar desde que seus sonhos foram atropelados pela realidade. Foram séculos, milênios? Não sabia precisar. O processo de destruição daquele mundo continua aceso. Foi como uma bomba atômica jogada por um avião que acabava de decolar daquela mesma cidade. Tão rápido, mas as sequelas ficariam para todo o sempre.
Não havia mais refúgio, nenhum porto onde pudesse atracar sua mente. Era cinza. Tudo havia se transformado em pedra e cada badalada tilintava junto com seu coração. Sabia que havia maneiras de contornar a sua angustia, mas da mesma maneira, sabia que os danos da futura devastação poderiam ser ainda maiores. Teria ela um limite? Daqui pra frente tinha decidido; Seria nada mais do que uma pequena partícula a vagar pelo infinito.
Nas veias daquela mulher o sangue escoa trajetando o seu corpo em compasso. Os batimentos do coração acompanham os segundos do relógio daquela igreja. Cada badalada lança uma chama tóxica que faz contorcer todos os músculos. A sensação de agonia não é tão coordenada e constante, ao contrário, parece se intensificar como se a qualquer minuto tudo fosse explodir em minúsculas partículas.
Engraçado falar em partícula porque ela havia fixado em sua mente que tudo o que lhe acontecia era explicado pelo fato de ser uma simples partícula. A salvação, pensava ela, seria unir-se a outras para formar um átomo. Até que um dia, aprofundando seu pensamento, percebeu que se fosse um átomo iriam faltar outros átomos para se tornar uma substância e desta maneira nunca estaria plenamente satisfeita de si.
Não gostava de ser partícula, não estaria satisfeita em ser átomo ou substância, mas não fora sempre assim. Houve um tempo em que ela conseguia acreditar em sonhos e seu corpo era substanciado a uma realidade paralela. Houve um tempo em que a dor deixou de existir pois a consciência habitava as dimensões do sonhar. Houve um tempo em que acreditava não ser uma simples partícula, mas o tempo passou.
O tempo passou devagar desde que seus sonhos foram atropelados pela realidade. Foram séculos, milênios? Não sabia precisar. O processo de destruição daquele mundo continua aceso. Foi como uma bomba atômica jogada por um avião que acabava de decolar daquela mesma cidade. Tão rápido, mas as sequelas ficariam para todo o sempre.
Não havia mais refúgio, nenhum porto onde pudesse atracar sua mente. Era cinza. Tudo havia se transformado em pedra e cada badalada tilintava junto com seu coração. Sabia que havia maneiras de contornar a sua angustia, mas da mesma maneira, sabia que os danos da futura devastação poderiam ser ainda maiores. Teria ela um limite? Daqui pra frente tinha decidido; Seria nada mais do que uma pequena partícula a vagar pelo infinito.
Por um triz
Se não fosse você,
tão pequeno e carente,
com toda a vida pela frente,
não sei o que seria.
Se não fosse você,
a espalhar esperança,
a mostrar que pela infância
vale a pena viver.
Se não fosse você,
já teria partido,
Para além do infinito,
onde Deus ou o Diabo,
teria muito a escutar.
Por hora permaneço,
mesmo que ao avesso,
e segurando a garganta,
vamos ver onde vai dar.
Ps. Um salve às rimas pobres
tão pequeno e carente,
com toda a vida pela frente,
não sei o que seria.
Se não fosse você,
a espalhar esperança,
a mostrar que pela infância
vale a pena viver.
Se não fosse você,
já teria partido,
Para além do infinito,
onde Deus ou o Diabo,
teria muito a escutar.
Por hora permaneço,
mesmo que ao avesso,
e segurando a garganta,
vamos ver onde vai dar.
Ps. Um salve às rimas pobres
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Eu.for(i)a
Do outro lado da montanha você grita meu nome; - Nada mudou, amor. De quem era esta voz e a quem pertenceu, não sei. O rosto desfacelado pela autoproteção por vezes surge em alguma esquina desmemoriada. Por tempo demais, amor, tempo demais. Acelero paixões, sufoco dores e esqueço. A dádiva de não saber quanto tempo, mas ter a certeza do apocalipse individual me foi implantada. Autodefesa.
Você me deu os sonhos que sempre quis ter. O gosto quente e confortante do amor paira cada vez menos sobre a minha boca. Desde então toda despedida será como a primeira, o verdadeiro adeus da minha vida. Era frio e o sol rachava lá fora, era triste e o meu sorriso estampava aquele túmulo. Camadas e camadas de terra não eram as únicas coisas que nos separavam. O sorriso era por saber que você tinha chegado aonde queria. Vá em paz.
Acelero. Faço tudo o que você não fez. Desacelero. Pergunto quanto tempo falta pra te acompanhar. Terra sobre terra. Subo as montanhas como se não houvesse mais nada para ser feito. Desço como se houvesse muito por fazer. Continuo, amor, com tempo demais e tão pouco tempo. Corro depressa, canso. Durmo na esperança de que seja eterno. Desejo paz.
Não tenho meio termos. "Seja quente ou seja frio, se for morno eu te vomito", a vez em que Deus falou comigo. Troco as conjugações. Era uma vez uma garota que não sabia viver. O que fazer?
Você me deu os sonhos que sempre quis ter. O gosto quente e confortante do amor paira cada vez menos sobre a minha boca. Desde então toda despedida será como a primeira, o verdadeiro adeus da minha vida. Era frio e o sol rachava lá fora, era triste e o meu sorriso estampava aquele túmulo. Camadas e camadas de terra não eram as únicas coisas que nos separavam. O sorriso era por saber que você tinha chegado aonde queria. Vá em paz.
Acelero. Faço tudo o que você não fez. Desacelero. Pergunto quanto tempo falta pra te acompanhar. Terra sobre terra. Subo as montanhas como se não houvesse mais nada para ser feito. Desço como se houvesse muito por fazer. Continuo, amor, com tempo demais e tão pouco tempo. Corro depressa, canso. Durmo na esperança de que seja eterno. Desejo paz.
Não tenho meio termos. "Seja quente ou seja frio, se for morno eu te vomito", a vez em que Deus falou comigo. Troco as conjugações. Era uma vez uma garota que não sabia viver. O que fazer?
terça-feira, 27 de julho de 2010
Avenidas
Ladeiras perdidas, avenidas. As curvas chuvosas iluminadas à velocidade da luz. Há um labirinto em minha mente. A lugares diferentes eu vou. Voo. Semelhança calada. Gritante. Sabores, cheiros, você. Tudo muda. Alguns fingem não ser, outros não saber, outros não se importar. Importa?
Ecoo. Ecoo. Ecoo. Há um vão em algum lugar aqui dentro. E se eu caísse? Eu podia voar, me desfazer, evaporar. Depois juntar cada pedaço. Reviver. Eis a explicação para os retalhos do meu corpo; Cada costura é uma vida.
O que de mais precioso pode esconder aquela avenida? - Porquês. Não entenda. Às vezes a ignorância se faz necessária. Fechei meus olhos e cada poro do meu corpo. O suor inundou o meu espaço. Compressão. Sufoca, sufoca, sufoca. Preciso esvaziar-me, esvair-me, desnudar-me. Esquecer. Preciso lembrar-me de esquecer.
Parei em frente a tua porta. Estou indo esquecer. Importa? Fecho os olhos e não há mais nada. Mentira. Há anos estou presa no mesmo labirinto. Há portas, mas não saídas. Cruzamentos de avenidas que te levam a lugar nenhum, aos mesmos diferentes lugares. Mentira. Um dia há de ser.
Ecoo. Ecoo. Ecoo. Há um vão em algum lugar aqui dentro. E se eu caísse? Eu podia voar, me desfazer, evaporar. Depois juntar cada pedaço. Reviver. Eis a explicação para os retalhos do meu corpo; Cada costura é uma vida.
O que de mais precioso pode esconder aquela avenida? - Porquês. Não entenda. Às vezes a ignorância se faz necessária. Fechei meus olhos e cada poro do meu corpo. O suor inundou o meu espaço. Compressão. Sufoca, sufoca, sufoca. Preciso esvaziar-me, esvair-me, desnudar-me. Esquecer. Preciso lembrar-me de esquecer.
Parei em frente a tua porta. Estou indo esquecer. Importa? Fecho os olhos e não há mais nada. Mentira. Há anos estou presa no mesmo labirinto. Há portas, mas não saídas. Cruzamentos de avenidas que te levam a lugar nenhum, aos mesmos diferentes lugares. Mentira. Um dia há de ser.
sábado, 17 de julho de 2010
"You talk way too much"
Eu tentei acreditar,
nas palavras, nas canções,
na sua voz, amor.
Tentei não olhar
o rumo,as direções,
e as portas que se fecham.
As horas passam,
o tempo chega, os olhos vêem,
e o coração?
Esse sente todo o peso,
o peso dissonante,
a briga ferrenha,
entre as palavras e as ações.
"É assim que termina?"
Muito provavelmente.
nas palavras, nas canções,
na sua voz, amor.
Tentei não olhar
o rumo,as direções,
e as portas que se fecham.
As horas passam,
o tempo chega, os olhos vêem,
e o coração?
Esse sente todo o peso,
o peso dissonante,
a briga ferrenha,
entre as palavras e as ações.
"É assim que termina?"
Muito provavelmente.
voou
Pra provar os seus planos,
A vida, a distância,
Ele vai.
Afirmando o que negava,
a diferença, as impossibilidades,
Ele vai.
Foi com quem o pertence
Aquela gente de sorte,
Para sempre, para nunca mais
Voltar.
Pois agora reina
A certeza das disparidades,
As diferenças dos caminhos
E a vida que não volta,
Que nunca volta,
a se cruzar.
A vida, a distância,
Ele vai.
Afirmando o que negava,
a diferença, as impossibilidades,
Ele vai.
Foi com quem o pertence
Aquela gente de sorte,
Para sempre, para nunca mais
Voltar.
Pois agora reina
A certeza das disparidades,
As diferenças dos caminhos
E a vida que não volta,
Que nunca volta,
a se cruzar.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Capuccino
Foi embora junto com o desejo,
Com toda a esperança,
Foi também a vontade de renascer,
De surgir, emergir naquele lugar.
Levou os melhores sabores,
Meus dias, meu bem querer.
Foi embora a vontade de ser,
o entrelaçar, o fundir.
Todo doce, todo calor,
Foi embora.
Com toda a esperança,
Foi também a vontade de renascer,
De surgir, emergir naquele lugar.
Levou os melhores sabores,
Meus dias, meu bem querer.
Foi embora a vontade de ser,
o entrelaçar, o fundir.
Todo doce, todo calor,
Foi embora.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Descanso
breve.
Ter um segundo
esperar, esperar, esperar
outro segundo
breve.
esperar, esperar, cansar.
Angustia a retorcer
a tortura eterna do tempo.
explodir.
correr, fugir, gritar
Basta!
Nunca mais esperar,
nunca mais.
Parar.
esperar, esperar, esperar.
Ter um segundo
esperar, esperar, esperar
outro segundo
breve.
esperar, esperar, cansar.
Angustia a retorcer
a tortura eterna do tempo.
explodir.
correr, fugir, gritar
Basta!
Nunca mais esperar,
nunca mais.
Parar.
esperar, esperar, esperar.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Alice
Certa das direções
do meu ser e estar
Pretendo ir adiante.
Se tudo que deveria ser
ainda não está completo,
Diminuo e cresço.
Já fui pequena demais
e demasiado grande
Conheço a medida exata
do que devo ser.
Não permito que me digam
O que devo fazer,
nem com quem quero estar.
dedos e mais dedos,
direções inexatas.
Escolhi percorrer meu coração.
do meu ser e estar
Pretendo ir adiante.
Se tudo que deveria ser
ainda não está completo,
Diminuo e cresço.
Já fui pequena demais
e demasiado grande
Conheço a medida exata
do que devo ser.
Não permito que me digam
O que devo fazer,
nem com quem quero estar.
dedos e mais dedos,
direções inexatas.
Escolhi percorrer meu coração.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Liberdade
Não importa se você quer ir pra bem longe de mim, amor, não importa. Falava ele com um leve sorriso na face. A tua liberdade era parte dos meus planos, mais uma das lições que eu gostaria de te mostrar sobre a vida, ele continuava enquanto a empurrava levemente para frente. Você deve ir para onde o vento te levar, pois fomos feitos para voar, para sermos livres como pássaros. ele continuava a empurrá-la. Ela não dizia mais nada, havia abaixado sua cabeça e deixava ser empurrada porta a fora. Na alma, cortes profundos. Marcas da liberdade que estava prestes a reencontrar. Eu te amo, ele sorria. Por isto quero que você vá, porque te amo. A lua iluminava parte do seu rosto ainda direcionado para o chão. O vento congelava seu sangue e a fazia estremecer. A porta se fechou.
Inevitavelmente ela teve que encarar mais uma vez a dimensão do mundo. Lá estava ela novamente, frente ao tempo, à imensidão, que para o seu conforto teria um fim, um merecido fim. Andou alguns quilômetros em linha reta até ter certeza que estava longe o suficiente dali. Deitou na terra molhada, virou-se de lado e abraçou os joelhos. Os significados iam bicando o seu corpo. Arrancando cada pedaço. As horas de agonia se estenderam até o coma inconsciente. Não eram imagens, nem lembranças, não havia simbologia. Eram gritos, apenas gritos. O reconhecimento de seu destino. A solidão e o frio na pele que aos poucos congelava seu coração seriam eternos enquanto durasse a vida.
A porta se abria. Ali, deitada, ela o via voar para longe. Quanto mais se distanciava, maior era o sorriso. O sol já nascia entre as montanhas. Vagarosamente, com a esperança de que assim o tempo seja encurtado, ela levanta. Fecha os olhos. Em seu ouvido, o vento sussurra mais uma vez. Então ela segue. Em direção ao nada, ou para onde o vento a levar.
Inevitavelmente ela teve que encarar mais uma vez a dimensão do mundo. Lá estava ela novamente, frente ao tempo, à imensidão, que para o seu conforto teria um fim, um merecido fim. Andou alguns quilômetros em linha reta até ter certeza que estava longe o suficiente dali. Deitou na terra molhada, virou-se de lado e abraçou os joelhos. Os significados iam bicando o seu corpo. Arrancando cada pedaço. As horas de agonia se estenderam até o coma inconsciente. Não eram imagens, nem lembranças, não havia simbologia. Eram gritos, apenas gritos. O reconhecimento de seu destino. A solidão e o frio na pele que aos poucos congelava seu coração seriam eternos enquanto durasse a vida.
A porta se abria. Ali, deitada, ela o via voar para longe. Quanto mais se distanciava, maior era o sorriso. O sol já nascia entre as montanhas. Vagarosamente, com a esperança de que assim o tempo seja encurtado, ela levanta. Fecha os olhos. Em seu ouvido, o vento sussurra mais uma vez. Então ela segue. Em direção ao nada, ou para onde o vento a levar.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Bifurcação
A vida continua,
cada qual em seu curso.
Uns pro norte, outros pro sul.
Como era de se esperar.
Como irá sempre acontecer.
cada qual em seu curso.
Uns pro norte, outros pro sul.
Como era de se esperar.
Como irá sempre acontecer.
quinta-feira, 4 de março de 2010
Barquinho
Ainda sinto o balançar dos teus braços.
Ainda escuto o entoar da tua voz.
E as canções que sempre diziam
Adeus.
Ainda enxugo as lágrimas do rosto.
Ainda me aqueço no teu abraço.
E rezo as orações que te faziam
acalmar.
Ainda te vejo partir naquele barco.
Ainda desmorono ao entardecer
E por mais que aparente não ser
Ainda espero você voltar.
Ainda escuto o entoar da tua voz.
E as canções que sempre diziam
Adeus.
Ainda enxugo as lágrimas do rosto.
Ainda me aqueço no teu abraço.
E rezo as orações que te faziam
acalmar.
Ainda te vejo partir naquele barco.
Ainda desmorono ao entardecer
E por mais que aparente não ser
Ainda espero você voltar.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Pára o mundo
Aniquila a verocidade avançada a esmo
recua da perversidade e descompaixão
cospe o desespero e grita aos céus
Há alguém do outro lado?
silêncio
fecha os olhos da alma
É a única saída neste poço sem fundo.
Eu te via chorar e não entendia
Agora chegou a minha vez
E assim será até a aguardada inexistência.
recua da perversidade e descompaixão
cospe o desespero e grita aos céus
Há alguém do outro lado?
silêncio
fecha os olhos da alma
É a única saída neste poço sem fundo.
Eu te via chorar e não entendia
Agora chegou a minha vez
E assim será até a aguardada inexistência.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Bad Feelings
Enquanto rastreio o teu passado, penso no quanto não sou nada do que você queria. Olho para mim e vejo tudo o que não sou e no que gostaria de ser só pra te completar perfeitamente, só pra fazer você me querer por completo.
domingo, 31 de janeiro de 2010
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Círculos
Os círculos daquela noite,
em mil cores me fizeram.
Parariam ao te ver voltar-se para ela.
Os círculos daquela noite me cortaram,
em mil pedaços me fizeram,
sussurraram teu nome,
transpassaram minha garganta, e mais.
Não eram como nave espacial,
mas me levaram pra bem longe.
De você.
em mil cores me fizeram.
Parariam ao te ver voltar-se para ela.
Os círculos daquela noite me cortaram,
em mil pedaços me fizeram,
sussurraram teu nome,
transpassaram minha garganta, e mais.
Não eram como nave espacial,
mas me levaram pra bem longe.
De você.
Adeus
Estou indo embora. Não, não é porque vou viajar. Estou indo embora de verdade. Você deveria ter imaginado. Lembra? Lembra de quando nos conhecemos? Lembra de todas as vezes que nos conhecemos? Das minhas fugas, da minha dor?
Quando nos conhecemos tínhamos algo em comum, algo profundo que nos ligava – Queríamos ir embora. Chegamos a tentar ir juntos, você deve lembrar-se daquela noite. A noite que rimos, que provamos da rosa, a noite que encontramos o mar. Eu e você.
Aquele sangue percorrendo às nossas gargantas, sempre, sempre através da lua. Foi naquela noite que a solidão invadiu nós dois. Quer morrer comigo? Eu te perguntei, e você aceitou. Temos que morrer agora, certo? depois será tarde demais, tarde demais.
E nós corríamos e ríamos e nos felicitávamos porque teríamos uma morte juntos em direção ao mar. E nadamos, nadamos, mas a morte não pode ser conjunta é sempre um ato solitário, então voltamos, mas eu te avisei, não foi? Eu te disse que seria tarde, tarde demais.
Assim voltamos, virgens, com toda aquela máscara envolvendo nossa solidão. Você seguiria o seu caminho e eu o meu, porque eu tinha te dito que seria tarde demais e que a única maneira de ficarmos juntos seria através da morte, éramos danificados demais.
Encharcados, percorríamos o caminho de volta, enquanto eu cantava, você sorria e me olhava. Eu estava sempre olhando pra dentro, estava presa em mim mesma. Você me deixou em casa, e eu te dei o meu adeus. Na madrugada fui atrás de você. Estou indo embora, te disse. Pra onde? você me perguntava. Você não entenderia se eu te dissesse. Só passei pra te dizer adeus.
Você nunca entendeu, não é verdade? Por isso sempre me procura. Não quero te desapontar, mas sempre estou certa sobre as coisas, e quando te disse que seria tarde demais era sério. É tarde demais, o meu adeus foi sincero. Desperdiçamos a nossa única oportunidade, agora seremos dois estranhos para sempre.
Eu deveria terminar a minha frase nesse para sempre, pois é sempre assim que faço, e é assim que quero que tudo seja, mas não é. Nós morremos naquela noite, não juntos, mas eu pra você e você pra mim.
Olha, está ficando tarde, preciso ir. O que aconteceu comigo? Digamos que fiquei ainda mais danificada. Você também? A vida sempre foi estranha pra nós dois. Espero que o destino já tenha brincado o suficiente comigo e com você, espero que nos deixe em paz. De verdade. De qualquer modo, adeus... adeus, meu irmão. Falei aquela palavra que há tanto estava engasgada. Nossos laços, nosso sangue. Adeus, meu irmão.
A areia me revestiu e eu vi você sumir. Adeus...
Quando nos conhecemos tínhamos algo em comum, algo profundo que nos ligava – Queríamos ir embora. Chegamos a tentar ir juntos, você deve lembrar-se daquela noite. A noite que rimos, que provamos da rosa, a noite que encontramos o mar. Eu e você.
Aquele sangue percorrendo às nossas gargantas, sempre, sempre através da lua. Foi naquela noite que a solidão invadiu nós dois. Quer morrer comigo? Eu te perguntei, e você aceitou. Temos que morrer agora, certo? depois será tarde demais, tarde demais.
E nós corríamos e ríamos e nos felicitávamos porque teríamos uma morte juntos em direção ao mar. E nadamos, nadamos, mas a morte não pode ser conjunta é sempre um ato solitário, então voltamos, mas eu te avisei, não foi? Eu te disse que seria tarde, tarde demais.
Assim voltamos, virgens, com toda aquela máscara envolvendo nossa solidão. Você seguiria o seu caminho e eu o meu, porque eu tinha te dito que seria tarde demais e que a única maneira de ficarmos juntos seria através da morte, éramos danificados demais.
Encharcados, percorríamos o caminho de volta, enquanto eu cantava, você sorria e me olhava. Eu estava sempre olhando pra dentro, estava presa em mim mesma. Você me deixou em casa, e eu te dei o meu adeus. Na madrugada fui atrás de você. Estou indo embora, te disse. Pra onde? você me perguntava. Você não entenderia se eu te dissesse. Só passei pra te dizer adeus.
Você nunca entendeu, não é verdade? Por isso sempre me procura. Não quero te desapontar, mas sempre estou certa sobre as coisas, e quando te disse que seria tarde demais era sério. É tarde demais, o meu adeus foi sincero. Desperdiçamos a nossa única oportunidade, agora seremos dois estranhos para sempre.
Eu deveria terminar a minha frase nesse para sempre, pois é sempre assim que faço, e é assim que quero que tudo seja, mas não é. Nós morremos naquela noite, não juntos, mas eu pra você e você pra mim.
Olha, está ficando tarde, preciso ir. O que aconteceu comigo? Digamos que fiquei ainda mais danificada. Você também? A vida sempre foi estranha pra nós dois. Espero que o destino já tenha brincado o suficiente comigo e com você, espero que nos deixe em paz. De verdade. De qualquer modo, adeus... adeus, meu irmão. Falei aquela palavra que há tanto estava engasgada. Nossos laços, nosso sangue. Adeus, meu irmão.
A areia me revestiu e eu vi você sumir. Adeus...
sábado, 9 de janeiro de 2010
A Janela
Entre paredes asfixiantes,
surge a janela.
Por ela, o vento me abraça.
Convida-me a pular.
No parapeito do 13º andar,
fecho os olhos e penso em você,
consigo voar.
Te chamo.
Entrelaçadas,
nossas mãos se apertam.
Olhos se fecham.
Sinto o teu pavor,
Ele me diz que juntos não conseguiremos.
Queria pular dessa janela,
mas não há nenhum pó mágico
que me leve aonde quero chegar.
Queria seguir para terra do nunca
Esquecer do abismo entre nós
e estar com você.
Pra sempre.
surge a janela.
Por ela, o vento me abraça.
Convida-me a pular.
No parapeito do 13º andar,
fecho os olhos e penso em você,
consigo voar.
Te chamo.
Entrelaçadas,
nossas mãos se apertam.
Olhos se fecham.
Sinto o teu pavor,
Ele me diz que juntos não conseguiremos.
Queria pular dessa janela,
mas não há nenhum pó mágico
que me leve aonde quero chegar.
Queria seguir para terra do nunca
Esquecer do abismo entre nós
e estar com você.
Pra sempre.
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